Veio à minha casa, sem nome, sem dono,
Dobrado na sacola, herança alheia,
Um short de tom verde, quase um abono,
Fluorescente em alta, cor de feira cheia,
E um cheiro enigma que em mim semeia.
Não era de essência tão boa ou ruim,
Guardado no tempo, vencido talvez,
Um rastro de amaciante no fim,
Mistura de pele, suor e mês,
O 'cheiro de xedô' que me fez refém.
Quem foi Deucy, a dona esquecida?
Que pernas, que curvas dançaram ali?
Será que na feira comprou colorida,
A peça que um dia serviu para si,
E agora a mim causa febre febril?
Seria risonha? Morena ou loira?
Será que cruzava a cidade apressada?
Ou ficava na sala, de perna à sombra,
Enquanto eu, teso, sem pista ou nada,
Imaginava a calcinha marcada?
Nas noites de insônia, surrupiava,
O pano vibrante, em suspiro e temor,
Sentindo a presença, que me excitava,
Na dança do cheiro, no toque sem cor,
Deucy, mistério do meu torpor.
E o fim? Foi pano de chão, doado de novo?
Sumiu na poeira, rasgou-se ao léu?
Ou repousa esquecido, tecido em renovo,
Num baú de brechó ou num céu de réu?
Só sei que guardo seu cheiro fiel...
*Das interações com 'Lorde Gepeto'...!
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