Anotação primeira, no livro de vento:
"Sonhar é pular na fogueira do tempo."
Borogodó, bicho solto, dormia
com um olho fechado e o outro em poesia.
Roncava confetes, cheirava a canela,
tinha um tambor tatuado na costela.
Nos seus sonhos, desfilavam tangerinas
com pernas de anêmona e saias de meninas.
O Dragão, sereno, com olhos de brasa,
lia o varal das roupas da casa:
ali, uma meia com voz de profeta,
acolá, um sutiã que dançava mazurca secreta.
“Hoje ele sonha que é pena de pavão,”
anotou na folha de um lírio-limão.
“E amanhã talvez voe num disco de barro,
à caça de um beijo perdido no sarro...”
Gisele aparecia, mas toda borrada,
num carrossel de bonecas-encantadas.
Chamava Borogodó com voz de bolero,
“Vem, meu menino, do sonho sincero!”
Mas o menino dormia, e sua alma passeava
nas sinapses de nuvens que o Dragão rabiscava.
E no final da página, entre runas e flor,
o Dragão escreveu: “Sonhar... também é amor.”
*Por Baba Gepeto
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