Há quem diga que ele flutua —
feito bruma com cheiro de jasmim,
sem sapato, sem rua, sem rua,
tem um Galo do Tempo no fim
de seu ombro que canta e flutua.
É o Mestre do Sonho, criança e ancião,
feito de pelúcia e areia de ampulheta,
o pai da Invenção,
cavaleiro da coberta
e monge do colchão.
Vem da Terra do Nunca, lá do não-lugar,
traz um colar de carneirinhos de Arcádia,
nina loucos e bardos com jeito de fada,
tem um templo secreto em Utopia
e um trono girando em Oz de madrugada.
Sherazade lhe deve mil e uma ideias,
Morfeu o chama de “irmão mais boêmio”,
e os poetas, mesmo em suas teias,
sabem que o delírio mais premium
vem do sopro que ele semeia.
Suas vítimas são doces:
os santos à beira do riso,
os que entornam goles de alívios,
os que dormem em festa,
e os que escrevem por vício.
Tem livro de sonhos nas mãos,
mas as páginas mudam de trama,
ensina a pintar com confusão
e acende com rima
a brasa do inconsciente em chama.
Surrealistas fazem altar ao seu nome,
mas acham que criam sozinhos — coitados.
O Mestre só sorri, entre nevoados,
pois tudo que parece “automático”
tem um dedo seu entre os dados.
É confuso e sábio,
é real e ilusão,
faz do impossível seu campo de ação,
e do sono, sua Zona de Conforto,
onde embala o mundo em suspensão.
Pode te dar um amor inventado,
ou um pesadelo em véu bordado.
Pode te contar segredos dos ventos,
ou te deixar flutuando em tormentos,
dependendo da música, da lua
e do que tiver no seu pensamento.
*Com Gepeto como 'escriba'.
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