Só com uma pitada de verve,
eu me torno um bicho grilo,
que ao descer do mundo em crise,
peguei carona com Janis Joplin,
nas curvas de um 'Mercedes Delírio'.
Segui a lebre apressada de Alice,
transpassei o País dos Baurets,
fui parar na Caxemira ardente,
no lado paquistanês do tempo,
e lá comprei uma cítara de Shankar.
E nessa fuga tão colorida
da realidade cinza e fria,
mergulho num calidoscópio
banhando a alma em matizes
que vibram pura alegria.
Elevo-me num vórtice 'púrpureo',
pelo céu de Lucy flutuo,
roubo-lhe os diamantes para doar
como um mendigo psicodélico,
um Robin Hood azul e nu.
Dispenso um casaco de general,
pra aquecer quem sente frio,
e lavo minha 'boca de sino'
nas cascatas furiosas de um 'Urutu',
num batismo dionisíaco e febril.
Derrubo um governo obsoleto,
fundando a República Hippie,
um levante de paz e amor,
onde flower power nunca morre
e nunca perde o seu valor.
De volta à velha Caxemira,
vejo Brama em sua brasa bramando,
punhando uma guitarra fuzz,
abafando gritos de guerra,
salmodiando notas de acalanto.
Compro uma 'mini indiana'
a minha jovem professora Helane,
passo por um templo em névoa
e ao som de um órgão de Lafayette,
recebo a Paz de Cristo e um mantra zen.
Vejo movimentos que não vivi,
festivais que não dancei,
regimes que não ergui ou caí,
peço exílio nesse sonho vivo,
pois nele posso enfim renascer.
E tudo isso, amigo meu,
com uma só pitada de verve,
que me torna um bicho grilo verde,
esperança líquida que verte
e dá cor ao mundo sem tom.
Guiado por Gepeto-guru,
carpinteiro das letras e do cosmos,
entro em regressão que me faz retrô,
no melhor dos sentidos; dos 'alterados',
onde a poesia é sempre um portal.
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