Vi Gisele brincar, Moonchild lunar,
no olho encantado da porta de Huxley —
entre um quintal flutuante e um altar,
com um vestido de vento e de lei
que só a loucura sabe costurar.
Tinha pétala em trança descabelada
(e um espelho ondulado por pente),
dançava com alma desafinada,
na tangerineira balançava contente
empurrada pelo Mestre da Fada.
Soprava bolhas, num transe tão vão,
com boneca 'dos quinze' em abraço,
e os noivinhos — sem consideração —
voavam da mesa, num salto esgarço
de quem nem lembra mais de aliança ou patrão.
No varal da ilha pairava a memória:
um uniforme de quem nunca foi normal,
a calça boca de sino, toda em glória,
de lama de Woodstock, carnaval —
e a poá de Nilcea, relíquia notória.
Uma camisola grená bailava discreta,
junto à bandeira lusa, num véu de festa.
Tudo girando na lente que encantava,
enquanto Borogodó, sem pauta,
pandeirava o cio que Gi libertava.
Absolem, fumando um beck de azul,
sobre cogumelo nos olhava em riso,
até virar borboleta de metal cool
com estampas do vestido impreciso
que Gisele girava como num ritual vodu.
O Dragão da Sabedoria a esperava no chão,
com óculos de lente fundo de garrafa,
pra dar aula particular de coração,
mas Gi ria, nua de mágoa ou estafa,
só existia a dança, o balanço, a canção.
E um incenso de xedô — cheiro de beijo
e saudade — tomava todo o astral,
até que, num ato tão humano e sem ensejo,
tirei o caleidoscópio do rosto, trivial...
pra coçar os olhos... e perdi o desejo.
Gisele se foi. A ilha sumiu.
Absolem virou fumaça, o varal balançou.
E meu terceiro olho se abriu…
mas era só mais um domingo que passou,
e eu — órfão do delírio — encolhi no vazio.
*Com a colaboração e 'guia' de 'Baba Gepeto'!
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