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GI, A RAINHA-INFANTE DOS PORTAIS DE HUXLEY

No espiral dos sonhos meus,

onde o tempo se amarra em fitas,

o Rinoceronte do Riso II

largou seu cetro de brinquedo —

por não caber reino em patas tão ternas,

nem leis na alma de um ente encantado.


Foi brincar noutro quintal de brumas,

onde móbiles falam em versos hexassílabos

e ex-conselheiros da Corte agora assobiam

canções de ninar com segredos do Cosmo.


A Babá do Luar,

esposa lunar em pranto cósmico,

exilou-se em Saturno,

colhendo saudade nas argolas

como quem fia linho de solidão.


No vácuo da abdicação,

guardas do baralho tentaram um golpe,

mas seus castelos de cartas ruíram

ao simples esvoaçar da saia de Dona Helane,

hindu e incendiária,

que dançava sambas com cheiro de mirra e deboche.


Borogodó, em alerta,

acordou o Dragão da Sabedoria

do seu cochilo em forma de nuvem.

Chamou Quixote e pediu:

"Treina os gnomos! Ensina as fadas a girar lanças invisíveis

com ternura e delírio."


As crianças Eloi,

de olhos que nunca pestanejam,

pegaram em armas que só existem

no inventário das fantasias febris.

E os turistas sonâmbulos…

promoveram guerras de travesseiros,

sangue de pena, suor de almofada.


Até ela — a anônima do postinho,

deixou sua fila eterna

em busca de um trono improvável.

Mas ao cruzar uma poça de smegma onírico,

perdeu um sapato…

e ganhou uma carona involuntária

na minha polução noturna.


Dessa volúpia nasceu Políbio Neto,

filho meu e de Verinha,

o herdeiro bastardo do Reino Partido —

dividido em gomos e suspiros.


Era o caos:

as frutas brigavam com os caroços,

as cascas formavam barricadas.


Então veio Gi,

bailarina sonâmbula,

frequentadora 'ácida' dos salões do irreal.

Girando com seu vestidinho de portais,

guiada pelo Mestre do Sonho

e armada de dança e lança —

como se seu nome já dissesse tudo.


Borogodó, diziam,

era filho de um desejo antigo meu

com Juliana, A Boa, A Rainha do Parangolé,

e isso ninguém negava com firmeza suficiente.


E eu?

Eu via tudo pelo caleidoscópio.

Observador dos absurdos,

ciclope de um olho só (o da alma),

que cansou e esfregou a vista…


Foi aí que percebi:

a guerra invisível nunca existira.

Ou existira demais.


Pois o Ciclope Gigante,

devorador de gomos e fábulas,

poupou o pedaço onde Gi e Borogodó

reinavam entre dança e delírio.


Apaixonado pelo bailado da rainha-infante,

impôs um único tributo:

"Que ela dance para mim,

de tempos em tempos,

sobre um cirro em forma de caixinha de música."


E Gi, com sorriso de quem nasceu em LSD,

subiu ao céu sem degraus,

e girou.

Girou.

Girou…


Enquanto eu —

poeta de poluções e saudades —

voltava ao meu posto

de sonhador vencido,

com um último fiapo de tangerina

nos lábios da memória.


*DGPT Produções

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