No Rio de Janeiro morava a menina
Celinha Catita, dengosa e ladina
Mas no peito guardava, num sonho guardado
O sertão que seu vô lhe tinha contado.
De sangue potiguar, coração aventureiro
Queria pisar no chão brasileiro
Do Seridó quente, do sol abrasado
Das noites de lua, do agreste encantado.
Numa noite formosa, no céu um clarão
Que igual só se via nos céus do sertão
Celinha dormia, deitada em sua rede
Quando ouviu um sussurro, sentiu um arrede.
Na janela surgiu um vulto alongado
De gibão em farrapo, chapéu bem virado
Era um cangaceiro de olhar flamejante
Mas seu corpo era feito de sombra e semblante.
“Sou Zé Cambito, do tempo passado
Vim lhe buscar pro agreste encantado
Onde o mandacaru floresce ao luar
E histórias dormem no vento a soprar.”
Celinha, curiosa, sem medo, sem pena
Vestiu seu uniforme de cangaceira pequena
Uma saia evasê, short clochard arretado
Chinelo customizado e olhar animado.
Montou na garupa do corcel xilogravado
Que relinchou forte, de luz enfeitado
E num galope veloz, feito assombração
Foram sumindo além do portão.
Voaram por vales, caatingas e serras
Viram onças pintadas reinando nas terras
Lampião e Maria no céu estrelado
Dançando ciranda num forró encantado.
Os caboclos d’água cantavam modinhas
Caiporas corriam fazendo artesinhas
E um boitatá de olhar incandescente
Guiava o caminho brilhando na frente.
No oásis de um sonho, no meio do nada
Celinha sentiu-se por fim encantada
Pois viu que seu peito guardava o amor
Por esse Nordeste, seu berço, seu cor.
E Zé Cambito, já não tão distante
Deixou de ser sombra, virou diamante
Ficou ao seu lado, eterno viajante
Do mundo de sonho, de sol radiante.
Se dizem que é lenda, que não aconteceu
Pergunta pra lua que tudo viu e viveu
Pois toda vez que a noite se acende
Celinha e Cambito ainda dão seu dueto no céu reluzente!
*Com o Mestre Gepeto!
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