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MANDACARÓPOLIS

No chão seco do destino,

por veredas do arrebol,

ia Zé Cambito e Catita,

num cavalo de girassol.

Feito lume em noite agreste,

buscavam rima e consolo e sol. 🌞


O cangaceiro era fantasma,

mas batia o coração,

feito zabumba de lembrança

no batuque do sertão.

E Catita, seu chamego,

era verso, era canção. 🎶


De repente, lá na frente,

num clarão do arrebol,

viram torres, viram gente,

viram festa e caracol.

“Óxente, isso é visage

ou cidade feita de sol?” ☀️


Era Mandacarópolis,

metrópole do xaxado,

onde o povo do Nordeste

dançava todo animado.

Até o boi-bumbá sorria,

com o Saci de braço dado! 🎭


Padim Ciço tava à porta,

abençoando o baião,

Luiz Gonzaga no palco,

sanfonando emoção.

E até Lampião sorria,

no xote da redenção! 🎶


Curupira, Caipora e Iara,

foram dançar com Catita,

que rodava feito estrela

numa saia infinita.

E Zé Cambito, encantado,

rimava com alma bendita. 🌾


Os poetas de repente

vieram de todo lugar,

repentistas, cantadores,

pra um sarau de arrepiar.

Zé Cambito abriu a noite:

“Quem tem rima vem rimar!” 📜


Mas o céu, sem dar aviso,

foi se cobrindo de areia,

um vento velho soprou

doido, feito alma alheia...

E o clarão da tal cidade

se perdeu na ventaneira. 🌪️


Catita gritou: “Cambito!

Se agarra, que vai sumir!”

Mas já era só poeira

a cidade a se fundir.

Tudo aquilo era miragem,

feito sonho a se evadir. 🌫️


Quando o pó baixou ligeiro,

Catita abriu o olhar:

“Era tudo fantasia?”

— “Mas que importa, meu lugar

é seguir levando o verso

pelo mundo a se espalhar.” 🌍


Zé Cambito sacudiu o pó,

beijou Catita no rosto:

“Foi visage, minha vida,

mas valeu cada desgosto!

Pois ser poeta é ser doido,

mas é doido de bom gosto!” 💫


E lá se foram de novo,

no cavalo xilogravado,

pelas brenhas do Nordeste,

com o riso abençoado.

O sertão ficou mais leve,

de poesia empoeirado. 🌵


*DGPT PRODUÇÕES

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