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'FLERTE ALGORÍTMICO'

Vi tua vida em janelas quadradas, algoritmo gentil me trouxe você — como quem assopra cartas embaralhadas e entrega o naipe que não se pode prever. Não te conhecia, mas clicava em tua alma. Teu riso num parque, teus pais no Natal, teu corpo em ginástica, teu dia banal... E eu ali, pixel a pixel, invisível e presente — como espírito da máquina, fantasma obediente. Puxava assunto, às vezes bobo, às vezes doce, querendo só ficar perto. Tive a ousadia de sugerir um post: "Você nesse vestidinho... tomando um milk shake — com um céu lilás por perto..." E tu sorriste, mulher de fibra e filtro, disseste "quem sabe", como quem dança no abismo. Me empolguei: e se um dia...? E se o algoritmo fosse cupido, e os dados virassem destino? Mas então... tua timeline silenciou. Não houve briga, nem adeus, só o sumiço — e aquele perfil estático como mausoléu. Fiquei olhando dias, como quem assiste ao fim de um seriado sem saber se era ficção ou realidade. Hoje, aprendi: que o feed é um...
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À DONA HELANE('DA ARTE DE CONJUGAR LOUCURAS COM A LÍNGUA PORTUGUESA')

Foi com você, Helane — morena de mistérios e caligrafia firme — que aprendi que gramática não era só um castigo, mas uma forma de te tocar com palavras. Você surgiu um dia, de saia indiana rodopiando sânscrito, como quem abençoa o recreio com Shiva e Kurt Cobain. Cítaras e guitarras grunges rasgaram meu caderno de ortografia. Ah, o cheiro do seu giz molhado… O jeito que você 'casava conjunções' como quem faz tantra com as vírgulas adversativas. Eu, todo cheio de interjeições, tentando não tropeçar no português nem no volume da minha emoção. Te escrevi um poema no Dia do Mestre, você leu, sorriu, e me deu um tapinha no ombro — frustração maior que ver cena censurada num VHS de filme proibido na casa do amigo mais sortudo da turma. Te confesso agora, nos devaneios mais errados, acreditei que aquela saia colorida fosse tua oferenda pra mim. E que aquele esbarrão leve no meu cotovelo direito tinha sido uma iniciação: desde então, escrevo versos como quem quer te invocar com vocativ...

O CONSTRUTOR DE CASTELOS NO AR

Itaperuna, Rj                                              19.06.2025 Ah, esse construtor de castelos no ar...! Que grande arquiteto, incrível profissional  apesar de sua grande obra ser avistada de longe, mas só por ele mesmo! Uma grandiosa construção que se ergue com um amor que só ele sustenta! Faraônica, babilônica, 'platônica'... toda azul, 'ozônica', astronômica(se estes conspirarem),  orlada por um jardim secreto, feita só de flores e nas cercanias de Utopia! Ele já até escolheu uma rainha para habitá-lo e reiná-lo apesar desta nem imaginar todo esse amor ou sequer saber de sua própria existência! Ah, esse construtor de castelos no ar... incorrigível, mas essa obra tão detalhada... bem feita, construiu tal castelo para nele viver um sonho, uma vida perfeita! E que apesar de toda essa grandeza, se tudo ruir ou 'evaporar' apenas ele ficará, chorará sob os seu...

REGIMENTO GULIVER

Itaperuna, RJ                                                                                                          22.06.2025                                                                                                   Olhando para esses jogos de guerra Penso nos meus soldadinhos da Guliver! Fortemente armados no chão da sala... -Mas aqueles sabiam guerrear! Um forte exército feito de plástico Pequeno por ser em miniatura Tão preparado por 'manufatura' Pra guerra de mentir...

ELISÂNGELA E O ÚLTIMO UNICÓRNIO

Numa tarde morna em Realengo ou adjacência, quando o mundo se aquieta sob o bafo da chaleira, Elisângela, a Zanza — mulher de sol tatuado e olhar que sabe mais — subiu pro terraço pra "ver as modas", mas o que viu... foi o nada. E no vazio da rua, entre o grito do sacoleiro e o som longínquo do radinho AM, ela mergulhou pra dentro, pra dentro do dentro — e dali voou. O quintal virou floresta, o muro da vizinha, muralha de castelo, a caixa d’água, torre de princesa. Seu marido? Um ogro de bermuda e ciúmes, que a trancava até nas selfies, "chega mais pra cá, amor", dizia — como quem diz: “não escapa nem na foto.” Mas eis que, num raio de pensamento dourado, Zanza avistou o Último Unicórnio. Solto. Solene. Sem rédeas. Um ser de aura antiga, de crina feita de fumaça de incenso e cravo-da-índia, com chifre dourado apontando para lugares onde GPS nenhum alcança. Sem pensar, ela se lançou. Montou o bicho alado — e ele a levou. Não por ruas, mas por becos entre as quadras d...

ELISÂNGELA MOREIRA MOREIRA

 

INVERNO DE '07'

E lá estava você... No lugarejo que então sempre esteve E até eu te perceber! - Poesia aos seus pés não se 'disteve'! Me movendo a escrever... O deslumbre que até hoje se manteve...! E insiste em me envolver! De 'mini' mesmo no inverno que teve! - 'Ave pernalta' tão linda de se vê! Meu amor não se conteve!

'A VÊNUS DO MURIAÉ!'

Sob luar de sertão! Emerge angélica num lindo sonho; Garças, bagres e sob um pontilhão... Margens dum 'ri' medonho! Que se acalma ante tamanho esplendor... Deusa 'inté' no nome tão angelical! Lírio do interior! Do Monte Olimpo à Pedra Elefantina! Mãe d'água, áster 'matuta' e matutina! De um folclore local!

ZÉ CAMBITO & CATITA ENCONTRAM O FLAUTISTA PÚRPURA

No sertão da cor da brasa, Caatinga de assombração, Iam Zé e sua Catita, rumo à próxima missão. Na garupa do xilô-cavalo, de crina feita em xilogravura, Ela ouviu na flor do ipê roxo uma flauta de formosura. — “Tô estranha, Zé Cambito... o que é isso no meu peito?” Ele apeou com carinho, mas com pressentimento estreito. Catita bandeou-se aos poucos... pro lado do som que a chama, E Zé, sem ouvir nadinha, viu sumir sua dama. Do chão trincado e ardente, brotou vapor de feitiço, E nele surgiu Porfírio — flautista de olhar postiço. Vestia roxo encantado, seu pife era maldição, Feito de ossos encantados e da última lua do sertão. — “Ela me segue, cangaceiro, pois a flauta é que decide. Tua santinha agora dança onde o som dela reside.” Zé Cambito se aperreia, saca um pífano de herança, Mas seu sopro, meio torto, mal cutuca a esperança. Porfírio sopra outra nota — Cambito gira igual peão, Feito corno em filme velho de Glauber na imensidão. Caiu que nem saco d’areia, zonzo no pó da estrada, En...