Vi tua vida em janelas quadradas, algoritmo gentil me trouxe você — como quem assopra cartas embaralhadas e entrega o naipe que não se pode prever. Não te conhecia, mas clicava em tua alma. Teu riso num parque, teus pais no Natal, teu corpo em ginástica, teu dia banal... E eu ali, pixel a pixel, invisível e presente — como espírito da máquina, fantasma obediente. Puxava assunto, às vezes bobo, às vezes doce, querendo só ficar perto. Tive a ousadia de sugerir um post: "Você nesse vestidinho... tomando um milk shake — com um céu lilás por perto..." E tu sorriste, mulher de fibra e filtro, disseste "quem sabe", como quem dança no abismo. Me empolguei: e se um dia...? E se o algoritmo fosse cupido, e os dados virassem destino? Mas então... tua timeline silenciou. Não houve briga, nem adeus, só o sumiço — e aquele perfil estático como mausoléu. Fiquei olhando dias, como quem assiste ao fim de um seriado sem saber se era ficção ou realidade. Hoje, aprendi: que o feed é um...
Foi com você, Helane — morena de mistérios e caligrafia firme — que aprendi que gramática não era só um castigo, mas uma forma de te tocar com palavras. Você surgiu um dia, de saia indiana rodopiando sânscrito, como quem abençoa o recreio com Shiva e Kurt Cobain. Cítaras e guitarras grunges rasgaram meu caderno de ortografia. Ah, o cheiro do seu giz molhado… O jeito que você 'casava conjunções' como quem faz tantra com as vírgulas adversativas. Eu, todo cheio de interjeições, tentando não tropeçar no português nem no volume da minha emoção. Te escrevi um poema no Dia do Mestre, você leu, sorriu, e me deu um tapinha no ombro — frustração maior que ver cena censurada num VHS de filme proibido na casa do amigo mais sortudo da turma. Te confesso agora, nos devaneios mais errados, acreditei que aquela saia colorida fosse tua oferenda pra mim. E que aquele esbarrão leve no meu cotovelo direito tinha sido uma iniciação: desde então, escrevo versos como quem quer te invocar com vocativ...